Pela falta de submissão
Por dentro do Acervo #10 | Roupa suja, saia roubada e um apelo à justiça.
Lavar roupas na fonte é uma prática que persiste até hoje em alguns locais, mas no século XIX era muito mais comum. Em Mariana, a tarefa, além das dificuldades inerentes, podia gerar alguns desentendimentos.
Em 1821, foi a vez de Vitoriano Monteiro da Costa acionar as autoridades para resolução de um problema que começou à beira da fonte Água Limpa, em Vila Rica (atual Ouro Preto). Em um belo dia, sua esposa, Ana Joaquina do Espírito Santo, foi lavar algumas peças de roupa e ao não conseguir terminar a atividade deixou a trouxa com “Elena de tal”, que morava bem próximo à fonte.

Até esse momento tudo não passava de uma gentileza entre conhecidos, porém ao tentar buscar as vestes dias depois a situação mudou. Elena se recusou a devolver as roupas, alegando que só devolveria depois que Ana Joaquina pagasse por uma saia que havia furtado da “Sra. De Tal”.
Ato contínuo a esse relato, Vitoriano já argumenta em defesa da cônjuge. Afirma que não era possível ter certeza de quem havia roupado a saia, “uma vez que naquela casa de beira fonte entra toda a qualidade de pessoas a guardarem roupas”.



A autoridade acata o pedido e determina que sejam entregues as roupas confiadas a Elena. Em 28 de agosto a suplicada foi intimada e respondeu com todas as letras que a roupa “constava em seu poder e que não entregava”. No mesmo dia Elena escreve para o juiz de fora de Vila Rica, expondo seu lado da situação:
É verdade que em meu poder se acham duas saias de algodão com rendas de algodão, dois vestidos de xitas e um lenço azul por segurança de uma saia de algodão fino com renda do mesmo, de quatro dedos de largo. O que rogo a Vossa Senhoria é que não mande fazer entrega da dita roupa sem que Vossa Senhoria mande entregar a minha saia. É o que posso responder a Vossa Senhoria, que mandará o que for servido.
Por não saber escrever, Elena pede a outra pessoa que o faça, mas assina com seu sinal e com registro de duas testemunhas. Como uma boa assinatura de cruz, ficamos sabendo assim seu sobrenome “sinal de Elena Pereira da Silva”.
Sabendo da intimação e não satisfeito com a retenção de suas roupas, Vitoriano faz um último apelo. No último documento desse conjunto o suplicante pede que “lhe faça justiça” e exige que a resistência de Elena indica que ela dever ser “corrigida no arbítrio de Vossa Excelência” pela por sua falta de submissão.
Para saber mais
Nessa seção você pode conferir indicações que complementam o assunto.
Pontes e chafarizes de Villa Rica de Ouro Preto
O livro de Feu de Carvalho sobre as fontes de água e chafarizes de Ouro Preto durante o século XVIII e XIX utiliza fontes do próprio Arquivo Público Mineiro analisadas pelo autor no período em que trabalhou na instituição. Além disso, conta com fotografias de alguns das pontes e chafarizes mencionados.
O livro está disponível gratuitamente e na íntegra no Google Books.
Guia
Nessa seção iremos apresentar, a cada edição, um fundo ou coleção do Arquivo Público Mineiro.
Coleção Casa dos Contos
A coleção Casa dos Contos (CC) tem origem na documentação dos órgãos fazendários do século XVIII e XIX, como a Provedoria da Real Fazenda, Junta da Real Fazenda e da Tesouraria da Província de Minas Gerais. O nome Casa dos Contos provém da “repartição onde os moradores entregavam o ouro colhido para ser pesado, fundido em barras, carimbado, contado e descontados os quintos devidos à Fazenda Pública”.
A coleção é dividida entre a documentação encadernada e não encadernada. Entre os documentos que compõe a coleção é possível destacar: folhas de pagamento de funcionários da capitania, cartas, instruções e ordens régias, arrematação de contratos e registros de rendimentos de diversos impostos.
A coleção Casa dos Contos possui 70 metros lineares de documentos textuais, contendo 1080 volumes e 161 caixas, que abrange o período de 1700 a 1853.
É nesse fundo que se localizam, por exemplo, livros de entrada e saída de materiais e concessões de cartas de sesmaria.


O inventário da coleção Casa dos Contos está disponível online: encadernados e não encadernados.
Até a próxima edição!
Equipe do Núcleo de Acesso à Informação e Pesquisa
Curadoria e produção: Ygor Souza.
Seção “Guia”: Izabella Flores (estagiária, sob supervisão).
Edição: Izabella Flores, Maria Sério e Ygor Souza.
Esse conteúdo de voces é maravilhoso!